20.6.05
Energia I
Lendo, por sugestão de um colega, o artigo do Wall Street Journal sobre a posição da Exxon relativamente ao futuro próximo do consumo energético e do efeito de estufa, e no dia em que o petróleo roçou a barreira psicológica dos 60 dólares, decidi passar os olhos pela sempre excelente estatística da BP sobre o consumo energético mundial e sintetizar a minha perspectiva de fundo do que acho que há-de vir nesse campo.
Observando na figura abaixo a perspectiva da Exxon da distribuição pelas diferentes formas de energia primária no futuro ano de 2025, e comparando com a estatística de 2002 da Agência internacional da Energia apresentada acima, não podemos deixar de constatar que a Exxon espera que o futuro se limite a ser mais do mesmo, ou seja, que a situação presente não se altere significativamente. Deixando de parte as questões relativas à seriedade da estimativa, não posso deixar de constatar que dificilmente ela irá acertar.
E entre os motivos que eu julgo que para isso vão contribuir, elencam-se quanto a mim os seguintes:
- O brutal crescimento do consumo energético na China, suportado pelas suas imensas reservas de carvão. Se o impacto do consumo dos outros combustíveis fósseis é essencialmente ao nível da produção de CO2, com as supostas e mais ou menos disputadas consequências ao nível do efeito de estufa, o efeito da queima do carvão adiciona à emissão de CO2 um aumento significativo da emissão de partículas para a atmosfera, com possíveis efeitos ao nível do albedo da atmosfera, e que poderão culminar com a diminuição efectiva da energia solar que chega à superfície terrestre, com impactos vários ao nível dos ecossistemas e do clima.
- O aumento progressivo do custo do petróleo. A diminuição da oferta de petróleo, ligada à progressiva exaustão dos recursos existentes (via Boing Boing) e a necessidade de passar a explorar fontes mais caras, como por exemplo as lamas betuminosas, conjugadas com a cartelização do mercado do petróleo e com o facto de as principais reservas ainda existentes habitarem em países politicamente difíceis, vão ter um impacto inevitável no preço do barril, com a consequência óbvia de afastar grande parte do consumo para outras formas de energia, entretanto tornadas (mais) viáveis e interessantes.
- A re-aposta no nuclear. Agora que a tecnologia ligada ao nuclear já se encontra mais estabilizada, e que (pasme-se) já se vai ouvindo até grupos ecologistas a propor a sua adopção, principalmente como alternativa ao carvão e à queima dos derivados mais pesados do petróleo, a opção pelo nuclear cada vez menos vai poder ser ignorada. Neste campo, julgo que a atituda alemã e nórdica de "meter o nuclear na prateleira" foi profundamente errada e vai ter que ser re-equacionada mais tarde ou mais cedo, sendo que mesmo em Portugal e discussão vai voltar a surgir ciclicamente. Apesar do esforço voluntarioso e estratégico (que abordarei proximamente) da União Europeia e seus países nas renováveis, a verdade é que existem, principalmente na questão da produção de energia eléctrica, segmentos dos diagramas de carga diários que muito dificilmente se ajustam a uma grande participação de renováveis (exceptuando a hídrica e a geotérmica), e que se adequam totalmente ao nuclear. Além disso, o próprio mercado do nuclear tem apresentado soluções de estudo que vão no sentido de adaptar o uso do nuclear a produções de menor escala, apresentando reactores com pouca ou nenhuma manutenção e com perigosidade nula, uma vez que não transportam material radioactivo suficiente para sustentar um meltdown.
- A aposta nas renováveis. Apesar de lenta e cara, a progressão na adaptação das renováveis como fonte de energia, principalmente devido à sua insignificância no passado (com a obvia excepção da hídrica), vai ser significativa e cada vez maior, dados os condicionalismos futuros do petróleo. O uso de energia eólica é já bastante significativo, e os avanços tecnológicos na área têm paulatinamente reduzido custos e condicionalismos técnicos da sua ligação às redes primárias de energia, sendo que já vão em diversos locais preenchendo uma fatia significativa dos consumos.
colocado por JLP, 20:36