Crítica Portuguesa

22.6.05

O embusteiro I

Já muito se disse sobre a intervenção do (ainda) nosso (?) Presidente da República no dia de ontem sobre o papel da banca no crescimento da economia. Não vou portanto acrescentar muito a quemtão bem dissecou a questão. Nem vale a pena reforçar o desconhecimento que demonstra em relação ao sector financeiro, confundindo a banca com capitais de risco. Vou só humildemente debruçar-me sobre o seguinte parágrafo da sua intervenção, que determina porventura onde está o embuste:

Há oposição da banca no que respeita a arriscar alguma coisa para as empresas que querem realmente inovar. Naturalmente que se quiserem um automovelzinho, a banca está disposta a fazer umas prestações que eu até penso 'Que pena não ter de comprar carro porque é uma maravilha'. É um embuste!


A pergunta aqui será "porque é que o Dr. Sampaio não conta nem espera contar comprar automóvel?"

Porque felizmente para ele, e desgraçadamente para todos nós contribuintes, o Dr. Sampaio tem direito a utilizar a sua viatura ofical, paga por todos nós, em utilização privada. Nós, para podermos ter direito ao nosso suado e principescamente pago ao Estado carrinho, efectivamente temos que recorrer ao crédito bancário, enquanto o Dr. Sampaio, que finalmente se aproxima a altura de nos privar da sua companhia institucional, ao abrigo da lei nº 26/84 de 31 de Julho que estabelece o regime de remuneração do Presidente da República, vai ter o direito vitalício aos seguintes "miminhos":

ARTIGO 6º

Os ex-titulares do cargo de Presidente da República que o tenham exercido pelo tempo correspondente a um mandato usufruem ainda das seguintes regalias:

a) Direito ao uso de automóvel do Estado, para o seu serviço pessoal, com condutor e combustível;

b) Direito a disporem de um gabinete de trabalho, com telefone, uma secretária-dactilógrafa e um assessor da sua confiança, destacados a seu pedido em regime de requisição de entre os funcionários e outros agentes do Estado;

c) Direito a ajudas de custo nos termos da lei aplicável às deslocações do Primeiro-Ministro, sempre que tenham de deslocar-se no desempenho de missões oficiais para fora da área de sua residência habitual;

d) Direito a livre trânsito, a passaporte diplomático nas suas deslocações ao estrangeiro e a uso e porte de arma de defesa.


A estes ainda adicionam, naturalmente, a subvençãozinha, também vitalícia.

E com este, vamos passar a sustentar três! E ainda há quem tenha a coragem de vir com argumentos de custo e de perenidade atacar a Monarquia! Depois espantem-se que as despesas da Presidência da República, de acordo com o último Orçamento de Estado, já ultrapasse os 13 milhões de euros, superiores às de muitos hospitais e estabelecimentos de ensino!

Com que direito é que alguém que foi eleito para um cargo público, em última instância para prestar um serviço ao Estado, ganha um direito vitalício a benesses desta natureza?
colocado por JLP, 14:44

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