13.7.05
Café Blasfémias II
Um dos pontos que surgiram durante a discussão que não pude rebater, por entretanto o tempo se ter esgotado, e por os problemas técnicos também não terem contribuído, foi a questão levantada por vários dos presentes de que os Portugueses seriam presentemente adversos ao risco, até contradizendo a sua realidade histórica expressa em iniciativas como a epopeia dos Descobrimentos. Não posso deixar de discordar, e de achar que a perspectiva perante o risco pouco mudou ao longo dos tempos.
Não se poderá dizer que um povo que embarca em projectos como a Expo 98 ou o Euro 2004, e que agora se prepara alegremente para embarcar no projecto do TGV e do novo Aeroporto de Lisboa, com perspectivas e avaliações concretas do risco no mínimo nebulosas, seja adverso ao risco. O problema quanto a mim é outro, e é o de sempre no nosso país. A questão é que o agente de decisão que lidera esses projectos é, no nosso caso invariavelmente, o Estado. A sociedade, conscientemente ou não, optou por delegar nessa figura paternal a gestão desse risco, ao invés de o assumir de um modo distribuído.
O que sucede é que que as possíveis consequências adversas da tomada desse risco não são sofridas pelo agente que toma as decisões, uma vez que o Estado se arroga de, no cumprimento do seu "mandato social", fazer repercurtir por todos as possíveis perdas, enquanto que absorve na sua máquina, quer por custos derivados à sua ineficiência, quer devido à corrupção e a ligações menos claras com os promotores dos projectos, grande parte dos benefícios.
Portanto, na prática, o risco está separado das suas consequências, o que cria a situação de, do ponto de vista do agente decisor, se ter uma curva de utilidade perante o risco sempre com retorno esperado não nulo, deixando de haver para este, de facto, risco. Além disso, a sociedade também acaba por se ver eventualmente defraudada de grande parte dos possíveis benefícios.
Em conclusão, não há particular aversão ao risco de quem entra com o dinheiro para o projecto. Para estes há risco, e muito! O que há é uma completa perversão de todo o processo de decisão e da sua correlação com a assunção de risco inerente a ela.
Não se poderá dizer que um povo que embarca em projectos como a Expo 98 ou o Euro 2004, e que agora se prepara alegremente para embarcar no projecto do TGV e do novo Aeroporto de Lisboa, com perspectivas e avaliações concretas do risco no mínimo nebulosas, seja adverso ao risco. O problema quanto a mim é outro, e é o de sempre no nosso país. A questão é que o agente de decisão que lidera esses projectos é, no nosso caso invariavelmente, o Estado. A sociedade, conscientemente ou não, optou por delegar nessa figura paternal a gestão desse risco, ao invés de o assumir de um modo distribuído.
O que sucede é que que as possíveis consequências adversas da tomada desse risco não são sofridas pelo agente que toma as decisões, uma vez que o Estado se arroga de, no cumprimento do seu "mandato social", fazer repercurtir por todos as possíveis perdas, enquanto que absorve na sua máquina, quer por custos derivados à sua ineficiência, quer devido à corrupção e a ligações menos claras com os promotores dos projectos, grande parte dos benefícios.
Portanto, na prática, o risco está separado das suas consequências, o que cria a situação de, do ponto de vista do agente decisor, se ter uma curva de utilidade perante o risco sempre com retorno esperado não nulo, deixando de haver para este, de facto, risco. Além disso, a sociedade também acaba por se ver eventualmente defraudada de grande parte dos possíveis benefícios.
Em conclusão, não há particular aversão ao risco de quem entra com o dinheiro para o projecto. Para estes há risco, e muito! O que há é uma completa perversão de todo o processo de decisão e da sua correlação com a assunção de risco inerente a ela.
colocado por JLP, 19:45
2 Comentários:
comentado por Anónimo, 10:35 da manhã
Nuno,
O meu ponto de vista era exactamente esse. Quando me referia à distribuição do risco, era exactamente à perspectiva de que o risco não é tomado pela "sociedade civil" que me estava a referir, e a que a competência da tomada desse risco é delegada pelos contribuintes e pelos cidadãos no Estado.
Contudo, isso não altera a minha perspectiva de que não são as pessoas que são avessas ao risco. O facto de esses projectos serem financiados com dinheiros públicos não elimina o assumir do risco por quem contribui com esse dinheiro, ou seja, os contribuintes, mas efectivamente, como defendi, elimina o conceito de risco da esfera das decisões do Estado.
O meu ponto de vista era exactamente esse. Quando me referia à distribuição do risco, era exactamente à perspectiva de que o risco não é tomado pela "sociedade civil" que me estava a referir, e a que a competência da tomada desse risco é delegada pelos contribuintes e pelos cidadãos no Estado.
Contudo, isso não altera a minha perspectiva de que não são as pessoas que são avessas ao risco. O facto de esses projectos serem financiados com dinheiros públicos não elimina o assumir do risco por quem contribui com esse dinheiro, ou seja, os contribuintes, mas efectivamente, como defendi, elimina o conceito de risco da esfera das decisões do Estado.
Desculpe lá, mas Euro2004, Expo98, TGV e Ota não são projectos da sociedade civil. São projectos do Estado financiado com dinheiros públicos e com receitas inferiores aos custos. Nenhum agente económicamente racional embarcaria neste tipo de projectos. Como foram á conta de dinheiros públicos não houve qualquer risco. Só o risco de o Estado se falir. Não faltará muito...