Crítica Portuguesa

14.7.05

Café Blasfémias III

Outra das questões que pretendia rebater, no seguimento da descussão, foi derivada de uma das intervenções que mais uma vez demonizava e classificava como origem de todos os males a Função Pública, e elogiava os nosso garbosos e empreendedores empresários, faróis impolútos no marasmo do despesísmo e da dimensão do Monstro.

Não nego que a gestão da função Pública é um dos males do nosso Mega-Estado, mas não serão mais do que umas das metástases do processo de disseminação do cancro-Estado em curso. A que a nossa (suposta) iniciativa privada também não está imune.

Para demonstrar o meu ponto, pensei em relatar algo surgido no decorrer de uma conferência que decorreu na semana passada na Escola de Gestão do Porto sobre o sempre adiado Mibel, o Mercado Ibérico de Energia. Nela, o orador representante da Sodesa, uma joint-venture entre a Sonae e a Endesa, um dos comercializadores de energia que já se vai ocupando de negociar contratos com os actuais consumidores elegíveis do "mercadozinho" de contratos bilaterais já existente, os médio-grandes e grandes consumidores, apresentava as estatísticas relativas à disseminação dos seus contratos por entre as classes dos médio-grandes e dos grandes consumidores. Foi a todos possível constatar que a penetração nos médio-grandes consumidores era já bastante significativa, enquanto que nos grandes consumidores era nula! O orador rapidamente explicou que não existiam contratos com os grandes consumidores porque, apesar de o mercado se encontrar liberalizado, a sua tarifa energética era subvencionada, como tal eliminando o atractivo que poderia emergir do estabelecimento de novos contratos!

Por entre públicos e "privados", em nosso redor, não há inocentes. Todos vão encontrando a maneira de arranjar a sua ajudinha, a sua subvenção e o seu subsídio que os acaba por torna cúmplices da impending disgrace que se vai desenvolvendo à nossa volta. A intervenção tentacular do Estado na nossa sociedade é tal que se poderá perguntar se ainda há impolutos e intocados.

Para concluír, e no seguimento do tema em discussão na tertúlia de "porque a direita não é liberal quando chega ao poder", com o estágio actual de dimensão do nosso Estado, e da sua presença tentacular na sociedade, toda (!), será talvez melhor questionar em alternativa se ainda é possível curar o cancro sem matar o doente...
colocado por JLP, 12:56

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