Crítica Portuguesa

8.7.05

Sins of the fathers



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As almas caridosas do costume, as que aparentemente só descobriram que existiam problemas no Médio Oriente, provavelmente caídos do céu, no dia 11 de Setembro de 2001, voltaram no dia de ontem a acordar da letargia confortável para onde já pareciam voltar depois do barulho ter voltado para fora de portas e para a casa dos outros, como se quer e se deseja.

Os mesmos que não interrompem o mastigar da sanduíche ou o sorver da coca-cola, agradávelmente disfrutados no conforto do lar, ao verem na televisão a notícia de mais um "bombardeamento acidental de casamento" no Afganistão ou mais um lamentável erro de um checkpoint aliado no Iraque que culminou em mais meia dúzia de danos colaterais, patrocinados pelos seus representantes legitimamente eleitos (e reeleitos), surpreende-se agora quando a desgraça lhes vem bater à porta. Nesta questão, como em muitas outras, não há inocentes.

Os problemas no Médio Oriente não são novos. As sucessívas ingerências, principalmente da politica externa Americana, no que constitui actualmente o tecido político dessa região, não são de ontem. Por mais de uma vez, os Estados Unidos, e em muitos casos o Reino Unido, por apoio político ou logístico ao primeiro ou individualmente, optaram por ser partisans e por interferir nos conflitos e desavenças que há muito por la grassam. A economia Americana, por mais de uma vez, beneficiou e continua a beneficiar directamente do caos e dos atropelos à Liberdade e Democracia que patrocinou e patrocina nessas paragens. A Democracia representativa Americana e Britânica sempre se mostrou complacente com este comportamento, e não hesitou até, como presentemente se verifica, em re-eleger os seus líderes por serviços bem prestados, de preferência lá longe, e que deixem a gasolina barata e não perturbem o seu sossego. A qualquer custo.

Esses líderes não hesitaram também, quando todo um ódio fermentado nos povos vítimas de décadas e décadas de ingerência interesseira e manipulação começou a destilar as suas vítimas, em proclamar Guerras ao Terror e em defesa dos mesmos "valores ocidentais" que ajudaram a subverter na casa dos outros para seu benefício ao longo de todo este tempo. O problema é que as guerras não se travam somente num sentido. E se calhar esses países, pelas suas acções até já se encontrar em guerra há mais tempo que julgam.

Ao terem decidido declarar guerra a um inimigo invisível, terão tido porventura a veleidade de achar que a inexistência de rosto, nação ou causa no seu adversário poderia ser jogada em seu favor, criando um Grande Mal com a luta ao qual todos não teriam problemas em se solidarizar. O problema é que mais uma vez os vícios do passado se voltaram a instalar. Os amiguinhos de ontem foram convertidos nos demónios de hoje, e cedo não tardaram a despontar ou agudizar as dualidades de critérios, que permitem por exemplo a um mesmo país apertar a mão ao rei Fahd da Arábia Saudita e o pescoço a Saddam Hussein no Iraque, e a continuar a proclamar-se como arauto e patrocinador da Liberdade. Rapidamente a Guerra ao Terrorismo se converteu em Guerra às Armas de Destruição em Massa e depois em Guerra para Disseminação da Liberdade, da Democracia e dos Valores Ocidentais, e de volta ao Terrorismo, navegando à vista dos interesses e da opinião pública.

À medida que conflito ganha rostos, nações e causas, os recrutadores do terrorismo não tardam a descobrir novos recursos humanos dispostos a fazer o que for preciso para lutar pelas causas que mais uma vez vão surgindo, numa espiral infernal em que não há meio, a avaliar pelos discursos de ambas as partes, de vislubrar quem pareça ter o bom senso de agir para interromper a sua progressão.

Tanto os Estados Unidos como o Reino Unido estão, e sem dúvida por sua vontade, em guerra. As guerras contemplam vitórias militares de ambas as partes, que devem ser vistas como tal. Assim como um dos lados se arroga a definir "danos colaterais" e até a promover a sua interpretação do direito internacional, não pode esperar que o outro lado seja complacente. Não será porventura uma guerra no sentido convencional dos termo, mas não pode por isso ser vista com olhos muito diferentes. O que essa guerra não legitima é que agora aqueles que durante decadas puxaram os cordelinhos e se aproveitaram das sua influência venham agora extender o ónus da suposta "defesa de valores ocidentais", da Liberdade e da Democracia a quem no passado não teve nada a ver com o assunto.

Esses países estão agora a colher muito daquilo que conscientemente semearam. a ver dentro das suas portas aquilo com que foram coniventes a conveniente distância durante tanto tempo.

Se calhar é tempo de perceber que defender a Liberdade negativa é na prática deixar os povos soberanos resolver os seus problemas, deixar que se revoltem ou deixem de revoltar sem estar a meter o bedelho, sem arrogâncias de superioridade ou sem tentar tirar benefícios deles. Os benefícios e os custos desses problemas devem ser de quem os criaram. A ingêrencia só deve ser aceite como mecanismo de arbitragem quando subsistam problemas entre países, aliás no espírito da Carta das Nações Unidas.

Se tentos compreendem essas regras e princípios em relação à propriedade, porque é que teimam em não as compreender em relação aos países?

Totais de vítimas civis:

11 de Setembro (2986)
11 de Março (191)
Londres, total corrente (49)
Iraque, totais correntes da invasão em curso (22787-25814)
Invasão do Afeganistão, estimativa conservadora (1000-1300)
colocado por JLP, 14:02

1 Comentários:

Subscrevo inteiramente.
comentado por Blogger Pedro Santos Cardoso, 6:43 da tarde  

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