Crítica Portuguesa

17.10.05

Desamparem a loja!

Mais uma semana, mais uma ida ao cinema. Hábitos e gostos antigos que vão perdurando, materializados em peregrinação semanal, de maior ou menor multiplicidade, aos cinemas AMC em Vila Nova de Gaia.

Para quem já torcia um pouco o nariz ao conjunto de anúncios publicitários exibidos antes do inicio da sessão, em que se vai tentando vender o perfume da moda ou se vai passando a última campanha do operador móvel da ordem, às vezes salvando-se um ou outro momento de publicidade bem conseguido, eis que agora somos brindados, no meu caso pela terceira vez consecutiva com um anúncio-teledisco-curta-metragem da multinacional de moda descartável sueca H&M. Seria somente mais um anúncio se não se tratasse de uma penosa (reforço o penosa) e pretensiosa enésima versão pós-moderna de Romeu e Julieta, de uns absurdos 6 minutos (que me pareceram bastante mais!).

Durante esse tempo, somos custosamente arrastados pelos berros melosos de Mary J Blige, e por uma realização azeiteira (porque dizer kitsch seria demasiado elogioso) repleta de clichés e banalidades cor-de-rosa e assustadoras. Ao fim dos primeiros minutos, e já morto o rapazinho, a mente anseava com impaciência e voracidade que a gaja marchasse, depressa e com requintes dignos dos bons velhos tempos do Peter Jackson. Mas não. A coisa arrasta, arrasta, arrasta, até finalmente a justiça ser feita à protagonista.

Meus senhores. Uma coisa é publicidade, outra é fazer quem pagou bem caros os seus bilhetes passar por semelhante abuso. Há limites. Se uma coisa esta campanha conseguiu, a mim que não era consumidor da marca, foi prometer a mim próprio para nunca lá por os pés, e gastar uns minutos do meu tempo a escrever estas palavras. E ao que parece não estou sozinho nos votos.

Os senhores detentores destes espaços, e as distribuidoras dos respectivos filmes, que tanto se vêm queixar que a difusão dos conteúdos por meios menos lícitos lhes retira clientela, deviam talvez pensar melhor quando submetem os clientes pagantes que lhes restam a este género de estopadas. Ou a fazê-los sucessivamente gramar com segmentos publicitários (estranhamente patrocinados pelo Ministério da Cultura) em que são corridos a piratas. Clips esses que são afinal vistos pelos clientes pagantes que ainda se dignam a deslocar aos seus cinemas ou, como já me aconteceu, em DVD genuínos, sendo que a visualização do clip, rondando 1 minuto e pouco, é obrigatória e não ultrapassável sempre que o DVD é visualizado. Concerteza na esperança que quem faça a cópia ilegal o lá deixe ficar...

Sinceramente espero que seja um desvario passageiro. Seria estremamente desagradável ter que recorrer a canais menos simpáticos para poder ver os meus filmes em paz.
colocado por JLP, 15:21

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