Crítica Portuguesa

11.10.05

Independentes? Quais independentes?

Vai havendo por aí muito borburinho relativamente à participação de listas de independentes nas eleições autárquicas. O capo Jorge Coelho já veio até a público afirmar que, pasme-se, o que vai acontecendo é uma perversão da democracia e do processo eleitoral autárquico, e que a lei eleitoral deveria ser alterada de modo a deixar a coisa aos profissionais.

Sem dúvida que o motor de toda esta confusão é a eleição de Valentim, Fátima e Isaltino, e a candidatura de Avelino Ferreira Torres nas suas fugas para a frente denominadas "listas independentes". Mas independentes de quê e de quem? Quando falamos em pessoas que construiram a sua carreira pessoal e autárquica numa rígida lógica partidária, que ocuparam cargos de monta no organigrama desses partidos, foram deputados, ministros e presidiram a órgãos fruto de lógicas inteiramente partidarias, e que optaram por se desvincular dessa lógica quando isso lhes foi conveniente, sem dúvida que temos que deixar a palavra "independência" à porta. O facto de, por maior arrufo ou menor arrufo de namorados, por maior ou menos birra ou sede de poder terem dito "até já" aos seus partidos, não pode ser motivo para ninguém subitamente concluir que surjam como cristãos-novos livres de pecado partidário e que tenham expurgado tudo o que de partido havia neles. Esse facto, pelo aproveitamento que dele fizeram no passado, quando também foi do seu interesse, já é uma marca demasiado indelével para que dependa só deles a opção de a tirarem. Ou alguém duvida que quando mudarem algumas das direcções partidárias ou a questão arrefecer não tardarão a voltar ao lugar que sempre ocuparam?

Qualquer tentativa de promover estes casos, não de independentes mas quando muito de dissidentes temporários por questões de lógica partidária, como exemplos da independência política que está subjacente ao que são consideradas candidaturas independentes, não será mais de que uma tentativa de atirar areia para os olhos dos que anseiam a abertura da política para algo mais que guettos partidários por aqueles que são os actuais donos do sistema e que tentam a toda a força manter a coutada.
colocado por JLP, 14:20

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