Crítica Portuguesa

4.1.06

Devaneios estatístas de um "neófito" liberal

António Pires de Lima, habitual porta-vóz do CDS-PP e alegado recém-convertido ao liberalismo de direita que, por falta de share ou por ter defraudado as espectativas iniciais relativas aos efeitos como campanha de marketing político não é actualizado desde 18 de Novembro, brindou-nos no dia de ontem (Diário Económico) com algumas notas de liberalismo de fino recorte (negritos meus):
"O CDS-PP considera inaceitável que a Iberdrola, concorrente da EDP no sector eléctrico, passe a ter assento nos órgãos sociais da empresa portuguesa tendo assim acesso a documentos estratégicos.

Pires de Lima lançou a dúvida sobre se estas mudanças do modelo de governação da EDP não permitem "legalizar e formalizar a espionagem industrial" ou se o Governo não estará a abrir caminho para a "absorção da empresa portuguesa pelo seu concorrente espanhol".

António Pires de Lima afirmou ainda "estranheza" pelo comportamento dos accionistas privados da EDP - Energias de Portugal, ao aceitarem a participação da Iberdrola no futuro Conselho Superior da eléctrica portuguesa.

"Estranho o comportamento dos accionistas privados não tanto pela constituição de um Conselho Superior, mas por permitirem que se venha a verificar na EDP o que eles próprios não aceitam nas suas empresas", afirmou Pires de Lima numa alusão ao BCP.

O dirigente popular sublinhou, contudo, que quem deve defender os interesses nacionais não são os accionistas privados, mas sim o Governo.

"O CDS-PP tem o direito de questionar o papel do Governo na defesa de interesses que considera indelegáveis e é nesse sentido que queremos ouvir o ministro da Economia e que ele se sujeite ao contraditório na comissão parlamentar de Economia", defendeu.

O CDS-PP acusou ainda o Governo de não transmitir um clima de confiança aos agentes económicos ao fazer uma "despudorada interferência" nas empresas públicas."
Após se assinalar a notável coerência nos últimos dois paragrafos transcritos, em que se anuncia a "despudorada interferência" do governo como causa de "não [se] transmitir um clima de confiança aos agentes económicos", quando ainda acima se anunciava o mesmo governo como defensor de "interesses que considera indelegáveis", verifica-se que o novo-liberal parece ter alguma dificuldade em assimilar uma economia de mercado em que um accionista de uma empresa goze dos mesmos exactos direitos de participação no dia-a-dia e no futuro da empresa que os outros co-accionistas que adquiriram participações com as exactas mesmas divisas. Mais se verifica uma certa dificuldade em aceitar uma economia de mercado em que o estado não seja o paizinho que guie pela mão supostos interesses nacionais, em paradigmas de estatização de outros tempos.

É interessante também constatar o uníssono que constituiu a posição dos candidatos à presidência da república sobre o assunto (eventualmente com medo que o povão levasse para as urnas a perspectiva que algum deles fosse um novo Miguel de Vasconcelos), unidos da muita-esquerda à esquerdinha com juramentos de protecção da pátria.

Interessante, também, seria perguntar onde estavam muitas das vozes que agora se erguem por alegado imperativo nacional quando os euros da Iberdrola vieram em bom tempo para tapar o buraco das contas. Déficit oblige. Nessa altura, as notas tinham a mesma cor das portuguesas, e sabiam bem. Não se faziam perguntas. Mas aparentemente parecem haver ainda alguns que acham possível que se possa ter o bolo e comê-lo simultaneamente.
colocado por JLP, 06:45

1 Comentários:

Caro JLP,

Lá diz o ditado: "Os bons espíritos..."

CAA
comentado por Blogger CAA, 5:57 da tarde  

Adicionar um comentário