2.1.06
Paradoxos da vida moderna
Escreve Ricardo Reis no Diário Económico (negrito meu):
Tenho muita dificuldade em perceber manifestações anti-globalização. A globalização é a transformação mais profunda e benéfica que eu presenciei. Há 20 anos, atravessar a fronteira com os meus pais para ir a Espanha era uma pequena aventura. Hoje é rotina. Ir a um restaurante japonês ou mexicano era exótico e inacessível. Chinês ou indiano só em Lisboa ou no Porto. Na altura, era uma excitação receber um chocolate suíço de quem vinha do estrangeiro; hoje, tenho à minha escolha dezenas na mercearia da esquina. Outro dia assisti num aeroporto a um diálogo entre um emigrante que explicava a outro que agora viajava para Portugal com pouca bagagem porque já não precisava de levar os produtos americanos de que gostava. Dizia-lhe: “Hoje em dia, encontra lá tudo. Até o arroz Uncle Ben’s!”(Via Biblioteca de Babel.)
No outro sentido, eu moro numa pequena vila nos Estados Unidos, com poucos emigrantes portugueses em redor. No entanto, como queijo de Azeitão e doce de tomate, durmo em lençóis de algodão portugueses e dou de prenda garrafas de cristal Atlantis, tudo isto comprado nas lojas das redondezas.
[...]
Porque é então que pessoas de diferentes países que comunicam pela Internet, partilham referências culturais, usam os seus cartões de crédito para viajar, e adoram diversidade étnica na comida, se decidem encontrar em Hong Kong para protestar contra a globalização?
colocado por JLP, 15:58