Crítica Portuguesa

20.7.05

O governo caterer



No seguimento da notícia do Público Online, a que já me pretendia referir, sendo que não o fizera ainda por uma reincidente questão de falta de tempo, foi conduzido pelo Planeta Asterisco a um artigo do Paulo Querido que exprime muito do que pretendia afirmar em relação ao anunciado e governamentalmente patrocinado acolhimento do "Fórum de Chefes de Governo da Europa da Microsoft" em Portugal.

Findos que estão grande parte dos showcases e feiras de tecnologia relevantes por este Mundo fora, descontinuadas muitas por falta de interesse do mercado ou convertidas em certames de apresentação de video-jogos, consolas e outros consumer products bem mais apelativos, eis que a Microsoft e outros bastiões do software comercial se começam a voltar para um mercado bem mais dócil e sugestionável como são os governos nacionais.

Sendo que uma significativa fatia dos seus clientes alvo industriais e de serviços já cairam na real, e torcem cada vez mais o nariz a processos de licenciamento de software arcaicos e a ciclos de actualizações cada vez mais preocupados em sustentar cash cows e atitudes promotoras de vendor lock-in, nada como apostar em "organizações" dóceis, pouco escrutinadas e auditadas, e principalmente que não pagam os custos do seu bolso, para vender aliciantes pacotes faraónicos de licenças e contratos de assistência do produto da moda. Nada como ter mega-estados e os seus respectivos serviços internos e ao cidadão agarrados à sua plataforma para que a penetração no resto venha por arrasto e consequência. Ele são arquivos nacionais de identificação made by Oracle, ou choques tecnológicos made by Microsoft.

Sem dúvida isto deveria ser mais do que razão para os mais incautos perceberem, por exemplo, muito do que foi o processo da discussão da directiva europeia de patentes de software, e também para perceberem porque é que as principais ganhadoras da existência dessa patenteabilidade (estranhamente poucas delas europeias...) parecem não ter ficado muito perturbadas com o desfecho, apontadas que estão já as baterias para as mais maleáveis legislações nacionais.

Mas, para mim, mal no final disto tudo fica mais uma vez o nosso país, remetido à tarefa digna mas porventura não para um Estado de criado de mesa e caterer, ainda por cima exultada como se fosse uma grande conquista. E retira grande parta das minhas já poucas experanças em relação à política em relação ao Software Livre a aplicar por este governo.
colocado por JLP, 14:53

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